Observação importante

O objetivo do Blog não é acusar ou perseguir compositores, tampouco os intérpretes das músicas aqui analisadas. O objetivo é avaliar que tipo de afirmações estão sendo proferidas em nossos púlpitos e lares cristãos, seguindo a linha de raciocínio dos crentes bereanos (Atos 17:11) e os conselhos de Paulo (1 Ts 5.21; Hb 13.9) e João (1 João 4.1). Todas as análises são de responsabilidade de seus autores e críticas são bem vindas, desde que não venham acompanhadas de ofensas, mas de paz. Se desejar, leia aqui um artigo sobre algumas considerações sobre música e culto.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Música: Raridade (Anderson Freire)




*Pedido de Wilson Barros (Via WhatsApp)


Letra:

Não consigo ir além do teu olhar
Tudo o que eu consigo é imaginar
A riqueza que existe dentro de você

O ouro eu consigo só admirar
Mas te olhando eu posso a Deus adorar
Sua alma é um bem que nunca envelhecerá

O pecado não consegue esconder
A marca de Jesus que existe em você
O que você fez ou deixou de fazer
Não mudou o início, Deus escolheu você
Sua raridade não está naquilo que você possui
Ou que sabe fazer
Isso é mistério de Deus com Você

Você é um espelho que reflete a imagem do Senhor
Não chore se o mundo ainda não notou
Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor
Você é precioso, mais raro que o ouro puro de ofir
Se você desistiu, Deus não vai desistir
Ele está aqui pra te levantar se o mundo te fizer cair


***
Eu estava evitando fazer esta análise há algum tempo. Primeiro porque já existem várias disponíveis na internet, e em segundo lugar porque fazer a análise de uma canção, enquanto ela está em seu auge de execução, é pedir para ouvir ofensas e ameaças, o que infelizmente é comum em nossa geração de crentes, fracos e sem domínio próprio. Aqui mesmo no Intervalo Cristão já recebi todo o tipo de ofensa/ameaça/“maldição”.

Bom, mas o auge parece ter ficado para trás, e alguns irmãos continuam me pedindo para lhes dar a minha opinião sobre a mesma. Esta análise é a edição de uma resposta que dei a um destes irmãos. Segue abaixo.


Análise:

A questão da música “raridade” não é simplesmente alguma frase herética presente na canção, mas a cosmovisão deturpada do sentimento experimentado pelo verdadeiro cristão. Esta canção apresenta o pecador como alguém muito especial, uma raridade, de quem Deus jamais desistirá, e a maneira como isso é apresentado torna flagrante o distanciamento da obra redentora de Cristo. Vou explicar essa deturpação utilizando o inicio do “Sermão do “Monte”, no capitulo 5 de Mateus.

Nos versos 3 e 4 Jesus diz:

"Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados”.

Não vou expor toda a pesquisa exegética sobre o texto (aos que desejarem, uma obra exegética e bastante completa do sermão do monte é o livro “Estudos no Sermão do Monte”, de Martyn Lloyd Jones), mas apresentarei o significado, o qual vocês podem depois averiguar.

A expressão “pobres de espírito” ou “humildes de espírito” (de acordo com a tradução) é sinônima de outra expressão, muito utilizada especialmente no AT, a saber, “coração quebrantado”. Não se trata da pessoa que anda humildemente sem ostentação, ou que é bem educada, ou algo do tipo, embora estas sejam boas qualidades, antes esta expressão se refere àquele que, ao ter um vislumbre de Deus, ainda que uma pequenina porção de compreensão de quem Ele realmente é, percebe o quanto seu próprio ser é impuro, imperfeito, pecador, pobre, cego e nu. Este indivíduo então reconhece que não é nada, que está perdido, que não possui nenhum valor em si que o torne agradável a Deus.

Esse sentimento pode ser percebido em grandes personagens bíblicos, como por exemplo, Isaías. 

O profeta Isaías era um homem integro, justo, profeta reconhecido por todo Israel, um homem respeitado pela sua probidade. É dito no capitulo 6 de seu livro que o mesmo Isaias teve uma visão de Deus em seu trono, servido pelos anjos, os quais proclamavam em voz estridente a seguinte expressão: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, toda terra está cheia da Sua Glória!”. 

Ao ver esta cena, ele que era um homem humanamente cheio de qualidades, diz: Ai de mim! Estou perdido!

Ao ver Deus em seu trono, ao ter um vislumbre de sua Glória e reconhecer quem Deus realmente é, ele percebe que na verdade não passa de um pobre pecador, impuro, de lábios impuros e que seu povo também não era nada diante de tão perfeito Deus.

Ou seja, naquele momento Isaías teve finalmente seu coração totalmente quebrantado, ele se torna um pobre de espírito, o qual herdará o reino de Deus.

Jesus em seguida fala dos que choram, e este versículo, assim como todos os outros desta seção, é complementar, não estando, portanto separado do anterior. Assim, ao se reconhecer como decaído da graça, nada precioso mas sim imundo pecador, o profeta se desespera. Algo semelhante acontece no capitulo 8 de Neemias, quando o profeta conclama o povo a estudar a lei, homens e mulheres e todos que pudessem compreender. Então, ao perceberem o quanto estavam fora do conselho de Deus, perdidos e reprovados, todo o povo todo chora.

Eles foram quebrantados pela verdade, apresentados como diante de um espelho à sua situação de calamidade diante de Deus. Isaías se desespera, o povo de Neemias se desespera.

Mas eles, enfim, são consolados pela misericórdia de Deus, Cristo recebeu sobre si a condenação de todos estes pobres pecadores.

Cristo é a consolação do que choram! Dos que perceberam sua calamidade! Dos que sabem que não são uma raridade preciosa, mas sim perdidos pecadores!

A estes se refere o Evangelho, essa é a cosmovisão cristã, e esta canção deturpa esta mensagem imutável do Evangelho, tornando pecadores em seres altivos, cheios de si, sentindo-se importantes e valorosos, quando na verdade estão totalmente fora da Graça de Deus, carentes de redenção, debaixo da ira de Deus e assim permanecerão caso o sangue de Cristo não os purifique. O que eles precisam é reconhecer sua calamidade, não sentirem-se agraciados enquanto seu verdadeiro estado é de podridão. 


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Música: Meu alvo (Kleber Lucas)



*Pedido de Joandson Quirino (Via Facebook)

Letra:

Estou subindo pra um lugar mais alto
Eu já queimei as pontes com o passado
E em meus olhos vejo o futuro
Tudo novo se fez, tudo novo se faz
E dessa estrada eu não me desvio nunca mais
Estou firme, eu não me desvio nunca mais

Vou avançar, eu vou crescer
Ninguém vai me deter
Meu alvo é Cristo, meu alvo é Cristo

Vou avançar, eu vou crescer
Ninguém vai me deter
Meu alvo é Cristo, meu alvo é Cristo

Estou subindo pra um lugar mais alto
Eu já desisti de andar sozinho
Cristo vive em mim
E os meus pés estão no caminho, estão no caminho
E dessa estrada eu não me desvio nunca mais
Estou firme, eu não me desvio nunca mais

Vou avançar, eu vou vencer
Ninguém vai me deter,

Meu alvo é Cristo, meu alvo é Cristo


Análise:

Tentando voltar aos poucos com as análises, atendo ao pedido do irmão Joandson, feito pela página do Blog, no Facebook. Aproveite pra curti-la :).

Para esta canção farei o seguinte, primeiramente uma análise imparcial da letra e somente da letra, e logo em seguida alguns pequenos comentários, contextualizando-a com a nossa realidade diária nos arraiais gospeis.

À primeira vista, esta canção parece tender para o triunfalismo secular, comum em boa parte das canções gospeis de nossos dias, porém absolutamente contrário ao Evangelho e a uma vida de dedicação à Cristo, conforme podemos ver claramente nas Sagradas Escrituras, através da vida e ensinos de Jesus e dos apóstolos.
“De fato, todas as pessoas que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas” (2 Tm 3:12).

O refrão então, se assemelha muito a esse tipo de ensino de conquistas terrenas por obra de Cristo: “Vou avançar, eu vou crescer”.

Mas como prometido, serei imparcial. O contexto geral da canção revela outra coisa. Esta subida "a um lugar mais alto”, este avanço e crescimento, se referem a uma vida com Cristo e se alinha bem com um importante ensino de Paulo:

“Como está escrito: ‘Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro’. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:36-39).

Nada pode deter o avanço espiritual de alguém que está em Cristo, abarcado pelo seu amor. Se “cristo vive em mim”, então eu persevero e “não me desvio nunca mais”.

Portanto, considerando estas coisas, afirmo que esta é uma canção que não deturpa as verdades do Evangelho, portanto está aprovada por esta análise e por mim.

Agora vamos a alguns comentários, lembrando que eles não mudarão a aprovação da letra, mas entendo serem pertinentes.

Quando pensamos não mais no contexto restrito da letra, e pensamos no contexto social e religioso onde ela se apresenta, encontramos algumas preocupações.

Isso porque ao considerarmos que vivemos um momento em que uma imensa parte das pregações, canções, livros e ensinos cristãos enfatizam justamente vitórias, conquistas, triunfos e prosperidades terrenas, e também que, para infelicidade geral, uma multidão de cristãos evangélicos não possuem um conhecimento satisfatório do Evangelho genuíno de Jesus, percebemos que canções como essa serão compreendidas dentro dessa realidade.

Ou seja, boa parte dos evangélicos, ao ouvirem esta canção, inevitavelmente compreenderão que se trata de referencias a estas vitórias terrenas, ignorarão a verdadeira vitória e perseverança do cristão e se alegrarão com a massagem de seus egos triunfalistas. Não por culpa da letra, mas pela nossa dificuldade em colocar os “pontos nos is” corretamente. Eu vejo isso acontecer todo dia.

Desculpem-me pela sinceridade e pelo pessimismo, mas vivemos realmente tempos difíceis.

Deus abençoe e tenha misericórdia de todos nós.



terça-feira, 5 de maio de 2015

Música: O Sol se esqueceu (Jorge Camargo)




Letra:

Minha razão sucumbiu
Ao teu olhar, à tua voz
E o meu coração sorriu

Meu braço então se estendeu
Pra te abraçar, pra te acolher
E o sol então esqueceu

De ir se pôr
De não brilhar
De não tocar a pele, a tez

Do mal em mim, o que não sou
Tudo o que sei
Queimar de vez

Meu pensamento embotou
Só sabe olhar, só sabe ver
Tudo aquilo que é teu

A minha vida se abriu
Para enxergar e admirar
O quanto o sol esqueceu

De ir se deitar
De não brilhar
De não queimar
A pele, a tez

Do mal em mim
O que não sou
Tudo o que sei
Queimar de vez



Análise:

Após um longo período de quase total inatividade, decidi continuar com as análises, certo de que trabalhos assim são a cada dia mais necessários. Não perderei tempo justificando tais necessidades.

Outra decisão foi aproveitar este espaço também para fazer o resgate de alguns grupos e compositores importantes para o desenvolvimento da música cristã brasileira, referenciais que jamais deveria ser esquecidos. A canção acima é a primeira de muitas com esse propósito.

Jorge Camargo, pra quem não conhece, foi um dos integrantes de dois dos principais Grupos Musicais Cristãos da história, o Grupo Vencedores por Cristo e o Grupo Semente, à exemplo de Sérgio Pimenta, que terá em breve alguns de seus "estudos cantados" expostos aqui no blog.

Então fica a dica e a exortação, se você ainda não conhece sua obra, corrija isso, especialmente se for um músico cristão compromissado com a mensagem e não com os lucros.

Falando da canção (a partir de 27m:14s do vídeo), ela usa a simplicidade da poesia lírica brasileira para falar da profundidade do perdão de Deus e de como Ele "esquece" de nos punir em face de nossa realidade pecaminosa, bastando tão somente “sucumbir” a Ele, abraçar a fé nEle (Rm 8:1).

Fazendo do sol uma figura de nosso Grande Deus, misericordioso e longânimo Deus, ele canta sobre a presença constante do Senhor em nós (Mt 28:20), mesmo sendo ainda pecadores (do mal em mim) e de como nossa alma é capaz de admirar tão maravilhosa luz.

Assim é o nosso Deus. Com ele podemos viver sem culpa e sem medo (1Jo 4:18).

Ainda que tentem lhe convencer do contrário, fique tranquilo meu irmão, perca o medo de ser verdadeiro e de buscar a verdade, Deus já te livrou de tudo isso, você é livre para ver o sol brilhar. Esta é a linda mensagem composta e cantada por Jorge Camargo.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Música: Sublime (Leonardo Gonçalves)




*Pedido de Leonardo Moreno (Via Facebook)

Letra:

Carros pela cidade
Correndo contra o tempo
Distantes no vazio
Atormentados pelos males
De uma era turbulenta e sem alívio

E eu anseio
Pela noite ou pelo dia
Dia sublime, tão sublime
E na saudade por alguém que eu ainda não vi
Me imagino correndo pra teus braços, ó Pai

Eu só quero a calmaria de um lugar
Que sopra o vento da paz
Guiando às águas tranquilas
Sou estrangeiro e vou seguindo para o eterno lar
Enquanto eu espero o momento em que vou te encontrar

Quando? Não sei
Um dia, eu sei
Estarei no meu lugar, no meu lugar tão sublime

Jerusalém! Jerusalém!
Jerusalém! Jerusalém!

Encontrei a calmaria do lugar
Que sopra o vento da paz
Bem junto às águas tranquilas
Sou estrangeiro, mas compreendo que o eterno lar
Começa no momento em que vivo para te encontrar

Hoje encontrei
Em ti encontrei
Encontrei o meu lugar, o meu lugar
Encontrei o meu lugar, o meu lugar
Encontrei o meu lugar tão sublime


Análise:

Costumo dizer que músicas boas, com mensagens verdadeiras e fundamento bíblico são fáceis de analisar. Este é mais um desses casos, portanto serei breve. Obviamente que se faz necessário que tenhamos clarificado em nossa mente a verdadeira mensagem do Evangelho, do contrário sempre julgaremos as coisas (e as canções) com base apenas em nossa própria opinião.

Pois bem, no início da canção o autor nos faz lembrar a realidade a qual nos deparamos todos os dias nesta vida. Vaidades (ilusões), vazio existencial, frustrações, tormentas. Dadas as mazelas de nossa vida terrena, a canção segue fazendo referencia à grande esperança cristã: A volta de nosso Senhor Jesus Cristo, quando enfim nos encontraremos face a face com o Pai, inaugurando dessa forma o fim de todo sofrimento, quando toda lágrima será enxugada.

Tudo isso concorrendo para um sentimento que tem faltado em muitos cristãos de nosso tempo, talvez na maioria, que é o de que somos apenas estrangeiros nesta terra, passageiros aguardando o grande dia, sem nos embaraçarmos com anseios temporais.

“Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra”. (Hb 11:13, ver também I Pe 2:11)

O compositor deixa claro então o lugar onde deseja fazer sua morada definitiva, não mais como estrangeiro. Através do contexto é possível aferir claramente que “Jerusalém” aqui não se trata da Jerusalém terrena, mas da Nova Jerusalém (Ap 3:12; 21:2), onde habitaremos eternamente num Reino de justiça e paz, o Reino totalmente estabelecido de Deus.


Pessoalmente não gosto do estilo musical e melódico deste cantor, mas não há como negar que a mensagem desta canção é excelente, apesar de simples. 




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